28 de set. de 2007

Inépcia

- Ei moço!

- Sim?

- Você é um porco!

- Como é que é?

- Eu vi quando você jogou aquela casca no chão.

- A casca de banana?

- Isso mesmo!

- E daí?

- Lugar de lixo é no lixo e não no chão.

- Mas eu não joguei no chão.

- Como não?

- Foi na grama.

- Afff... dá na mesma.

- Não dá não. Lixo orgânico na grama, eu posso chamar de adulbo.

- Se o senhor não sabe, uma casca de banana demora anos pra se decompor.

- Quem disse isso?

- Eu disse.

- Você está enganada.

- Ah, estou?

- Sim, você está. Dependendo da umidade do ar, a casca de banana leva em média dois meses para se decompor.

- E como é que você sabe?

- Certa vez, eu deixei três bananas estragarem. Por curiosidade observei aquelas três bananinhas se definharem por um mês.

- E quem aqui está falando de banana?

- Nós estamos.

- Só se for o senhor. Eu to falando da casca.

26 de set. de 2007

Repeteco

O alarme dispara e do meu sono eu me despeço. Alguns minutos passados e da cama eu levanto, contrariado, ranzinza e atordoando, vejo o tempo escoar enquanto me arrumo sem vontade. Atrasado, procuro minhas chaves, carteira e celular, nunca estão onde deviam estar, parece loucura, mas para mim já é normal. No trânsito diário ouço buzinas, respiro fumaça e tolero uma imensa massa estúpida, barberagem aqui é mato.

Finalmente no trabalho, presencio novamente a infalível estupidez, de diversas formas, ela se adequa nas mais insólitas situações. É pressão o dia todo, gente escrota me enchendo e a porra do ar condicionado que não gela. Me relaciono de maneira nada amigável com minha máquina, que no momento demonstra vontade própria, se negando a funcionar.

Na inércia do relógio, vejo comprovada a teoria da relatividade, como Einsten diria: “uma hora com uma bela mulher parece um minuto, e um minuto sentado num formigueiro parece uma hora.”. E esse formiqueiro já deu no saco. Mais um dia de trabalho, um dia a menos de diversão e quem sabe até, um dia a menos de vida, porque com certeza isso tudo não é nada saudável.

Apressadamente volto para casa, ainda tenho a faculdade entre mim e o meu tão desejado sono. Na correria me arrumo, como uma banana e iço as velas de meu barco em direção ao “oceano de sabedoria”. Na real, sabedoria é o cacete, muita teoria do óbvio, isso sim.

Chegando na faculdade, atrasado claro, senão os professores estranham, e olha lá ela novamente, a onipresente estupidez, sempre antes de mim em qualquer lugar que eu vá. Citando Einstein novamente: “Existem apenas duas coisas infinitas - o Universo e a estupidez humana. E não tenho tanta certeza quanto ao Universo.", pois é, a mais pura verdade. Não me isento de tal estupidez, pelo contrario, faço merda assim como todo mundo, mas posso dizer que sinto o cheiro.

Se há algo de bom em minha faculdade, são as mulheres. Elas me consolam, me instigam e me torturam, preenchem minha mente e me tiram da rotina. Muitas delas são como embalagens de conteúdo vazio, enquanto outras me fazem sorrir, fantasiar e admirar o pseudo sexo frágil.

Não posso dizer que o meu dia é uma paçoca estragada com coca quente, tirando a correria e a encheção de saco até que dá pra se conformar. Pois são nas derrotas do dia a dia que... Opa, 23h e já deu o sinal, é hora de ir para casa.

19 de set. de 2007

Embalada

Chego na balada por volta das 23:30, e como é de praxe, fui logo pegar uma bebida. - Vodka, limão e gelo por favor. - alguns minutos no balcão e decidi dar um giro por ai. A casa até que estava cheia, afinal sexta-feira é um bom dia, e o pessoal já estava no embalo.

Haviam três ambientes no recinto, o bar, a pista e uma área externa, entre um e outro, corredores que se pareciam mais com passarelas, cheias de gatas a desfilar. No momento estava me sentindo como um jurado de algum concurso sacana, onde as concorrentes disputavam pelo seu lugar no pódium das tesudas. Entre saias, saltos e decotes, dava para notar que o excesso de roupa não era o apropriado no local.

A essa altura o meu copo já estava vazio e não era a toa, ser jurado não é fácil. Volto ao bar, duplico a dose e saio em busca da presa perfeita. Na pista observo um belo par de peitos com uma loira, ou seria uma loira com um belo par de peitos? Pouco importa, meus olhos cravaram naquilo e de lá não sairam mais. Peitos sobem, peitos descem e rodopiam pelo ar, algo lindo de se ver. Vou chegar junto.

Durante a aproximação percebi que a loira estava acompanhada de uma morena, feia de dar dó, parecida com a Elza Soares, só que pior, ainda mais dançando como formiga na mira de uma lupa.

Próximo da loira tento estabelecer um contato visual, uma abertura pro meu bote. Cinco minutos passados e consegui uma piscadela da Elza, credo, e a loira nada. Vou arriscar assim mesmo:

- Será que posso saber o nome desse sorriso lindo? – perguntei com a minha melhor cara de... otário.

- Samara. – disse a loira após me fitar de cima pra baixo e fazer cara de quem ta com merda no prato. De perto nem era tão gata assim. Pra falar a verdade, axo que fui enganado pelos grandes, salientes e robustos peitos, que esses sim, eram deliciosos.

- Prazer, Otávio. – não é meu nome, mas é o primeiro que me veio em mente, por que será? No momento estava desencantado, sem muita pretensão, resolvi aloprar de vez.

- Bonito o seu nome. Será que posso lhe pagar uma bebida?

- Não bebo.

- Sério? Eu também não, sou atléta.

Na mesma hora Samara olha para o meu copo, onde havia sobrado apenas o gelo, e logo após bate uma geral no meu físico, que não é nada atlético.

- Você não me parece atléta – dirigindo o olhar agora para o meu pânceps.

- Nem tudo é o que parece, há cinco minutos atrás você me parecia bonita... e agora vejo que você é linda. – odeio ter que mentir, mas quer saber? Foda-se, já to no preju mesmo.

Finalmente Samara esboça um sorriso e a noite ganha um tempero. Mentirinha vai, papinho vem e já vejo a possibilidade de dormir com três travesseiros hoje. Confesso que a abordagem não foi das melhores mas como dizia aquela frase: “quem tem limões faz uma limonada”. E com melões se faz o que? Não vão faltar idéias, isso eu sei.

12 de set. de 2007

Terminal

O mundo está doente e sua receita está vencida. O diagnóstico é preocupante e não há muito o que fazer. Vacinamos o problema e enterramos a solução. Suas dores são visíveis, os sintomas evidentes, nada muda, nada cura, nada faz.

24 de ago. de 2007

Procura

Ainda sinto a sua presença, me incentivando a sorrir. Por qual razão? Ao despertar eu lhe perdi, e no instante, estou a lhe procurar. Vasculho em minha memória e não há uma gota de você.

- Minha cabeça está doente. – Tento me conformar. Parece que é em vão. Não há quem enganar.

Livrei-me de tudo aquilo que não gostava. Mudei. Caminho sobre meus próprios passos agora, porém, o destino continua indefinido. A trilha me parece simples, os obstáculos razoáveis, e o restante, não importa.

As vezes distrações tentam me impedir, mas aprendi a contornar, suas artimanhas não me iludem mais.

20 de ago. de 2007

Final Feliz

Manéco amava Frígida. Frígida não amava Manéco. Manéco lhe dava flores, colares e bombons. Frígida nunca gostou dos pretensos agrados, achava constrangedor ter que aceitá los.

Certo dia Manéco se irritou, não suportava a idéia de Frígida desprezá lo, não aceitaria tal desencanto, deciciu então dar o ultimato:

- Case se comigo, ou morrerás. – disse Manéco com certa insegurança. Havia lágrimas em seus olhos, tensão em seu corpo.

- Prefiro a morte. – disse Frígida friamente. Odiava ter que magoá lo, mas as vezes Manéco passava do ponto.

Aquela resposta não era bem a que Manéco esperava, pelo menos não daquele jeito, não havia mais o que dizer. Manéco tinha que ser forte, tinha algo a fazer.

- Sinto muito por você Frígida... espero não me arrepender do que irei fazer. – Manéco estava aos prantos, o seu coração acelerara, sua mente estava confusa. Mas não podia fraquejar, foi molenga durante toda a sua vida, aquilo tinha que mudar.

- Você está começando a me assustar. Acho que está ficando louco Manéco, pare já com isso. – disse Frígida enquanto se afastava de Manéco.

- Não! – gritou Manéco - Não me diga o que fazer... sua... sua puta! – Manéco estava descontrolado, a pressão era demais para ele, estava prestes a cometer uma loucura.

Frígida começou a se desesperar quando Manéco por impulso acertou a com aquilo que estava mais próximo, um grande cinzeiro de vidro. Frígida coberta de sangue tentou manter se de pé, mas não conseguiu, sua vista ficou turva e o seu corpo já não a sustentava mais. Frígida estava morta.

Entre celas Manéco agora descansa. Sua liberdade em relação a Frígida fora adquirida e seu amor passou a ser correspondido. Não por Frígida, que descansa a sete palmos, mas sim por Tonhão com quem divide o mesmo espaço recluso. As vezes, quando Tonhão está disposto e de bom humor, ambos assistem na beirada do beliche, um maravilhoso por do sol quadrado. Acompanhados é claro, pelo Buiú, pelo Tranca, pelo Zarolho...

18 de ago. de 2007

Desnatureza

Em minha falta de esperança
a vida entra em contra-mão,
perdi meu riso de criança
estou sem paz no coração.

Passo o dia questionando
sem amor e sem juízo,
as vezes fico lamentando
não saio do prejuízo.

Choro e penso, choro e penso
é difícil de entender,
mãos cerradas, corpo tenso
como posso lhe dizer?

Minha filha o mundo é triste
tudo incerto e poluído,
a natureza não existe
não sobrou cheiro nem ruído,
devia ao menos ter tentado
mas não pude ajudar,
foi consumido, foi cortado
até não ter o que tirar.

Do seu futuro nada sei,
desejo sorte e muito amor,
se for tudo como pensei,
me abrace forte por favor.

10 de ago. de 2007

Outsight

Minha cabeça está vazia, não adianta chacoalhar. Idéias se foram, todas, partiram sem avisar. Na mala levaram lembranças, palavras e munição. Deixaram um aviso, mas nenhuma condição.
- Estamos indo para nunca mais voltar. Fora isso, não há nada a comentar.
Mas que merda! Como foi acontecer. Foi tudo certo e nada fiz pra merecer. Pra essas coisas nunca tem uma previsão. Idéias estúpidas, vadias sem noção.

7 de ago. de 2007

Pertubado por lembranças, me retiro à solidão. Confuso, abatido e largado. Perguntas sem respostas isolam minha razão. Tristeza que atordoa, reforça a condição. Não sei mais quem, onde ou porque; queria poder, saber, te ver. Logo sei que isso termina, até então essa é minha sina. Já que vivo a questionar e nada me fará mudar, algo vou lhe perguntar: aonde o mundo vai parar?

1 de ago. de 2007

Freestyle

MANO CAOLHO vs SUPIMPA

MANO CAOLHO

eu vo chegando devagar
naum precisa nem falar
e devagar eu vo dizer
que sou muito pra você

no freestyle eu mando bem
não do mole pra ninguém
entenda bem a situação
não tem opção

agora:
chora, treme, foge, espanta
sai da minha frente
to sem tempo pra pilantra

vaza, corre, ve se dá um tempo
e volte quando ter
um pouquinho de argumento.

SUPIMPA

mano caolho já falou
disse muito e nada fez
na batida vou que vou
e descarrego de um vez

a tua rima é decorada
fala fala e não diz nada
e ainda acha que engana
sei que não gosta xana

diz que tem o procede
e não da mole pra ninguém
vamu ve quem vai treme
que argumento você tem?

cont...

27 de jul. de 2007

Retrocesso

De sua história muito pouco se sabia. "Um revoltado!" - alguns diziam. Não havia conformismo em sua existência, acreditava que aquele não era o seu lugar. Todos lhe pareciam estranhos. Os mais proximos lhe causavam desconforto e os mais distantes estavam em seus devidos lugares.

Acreditava que tinha algo a fazer, algo a dizer, algo a mudar. Não queria viver em vão. "Um sonhador!" - alguns diziam. Aqueles "sonhos" para ele faziam todo sentido e estavam distantes de um interesse individual. Sua busca era solitária, frustrante e fatigante.

Com o tempo tornou-se descrente com seus ideais. Os seus valores mudaram. Sua vida mudou. Não havia tempo para suas antigas indagações. Procurou seguir o modelo de vida "ideal", queria se enquadrar, fazer parte do todo. "Um bom homem!" - alguns diziam.

18 de jul. de 2007

Usuário

Ultimamente eu vivo um sonho
que ultrapassa minha razão,
vejo a luz de um sol risonho
trago a paz no coração,
não tem medo, eu suponho,
que altere a situação,
só as horas que transponho
que estragam minha noção,
se estou louco eu não sei,
nem até quando vai durar,
sigo em frente contra a lei
e mais da boa irei comprar.

16 de jul. de 2007

Impositivo

Segunda-feira, 17:30, permaneço sentado, pensando no que escrever. Penso em sexo, e no momento, não é algo que eu queira pensar. Penso na saudade, mas ela não está. Droga. Bom, já é alguma coisa... melhor não.
Nessa noite há promessa, esperança e possibilidade. Admito que estou ansioso a ponto de não ter a calma necessária para escrever, mas sigo em frente. Mulheres, carros, jogo e futebol, ponho para fora e ela pega no meu p... 17:35 e ainda estou pensando. Axo que hoje não sai. Segundona é foda... fica pra depois.

13 de jul. de 2007

Lascívia

Diante de mim estava ela, estirada sobre o lençol. Seus lábios pulsavam, sua boca pedia. Em seu semblante havia algo único, indefinido e curioso, não poderia ignorar, aquilo me atraía, despertava me o interesse. Ora dor, ora prazer. Ainda não sei, sei que gostei... e agora quero mais.

12 de jul. de 2007

Olhar

Quando me olha fico estático, como um gato à luz do farol, balbucio algo que minha mente não traduz, fico bobo, perco a linha. O que ela faz? Como ela faz? Os seus olhos me fitam com avidez, me instigam, me seduz. Esboço um sorriso, meio estúpido mas é um sorriso. Não convence. Aquele segundo durou demais. Talvez outra hora, talvez outro dia.

11 de jul. de 2007

Duvidoso

As paredes não se calam,
as pessoas que não falam,
e a sala está vazia.

Vivo um louco consciente,
que interage com o ausente
na incompleta solidão.

Sei que morro devagar,
é impossível não notar,
fico sempre a imaginar:
"e quando tudo terminar?".

10 de jul. de 2007

Brasola

Nunca foi a uma escola,
vivia sempre da esmola,
queria mesmo é joga bola,
mas o sapato era sem sola.

Quando a grana não descola,
mãe e pai só o esfola,
muita pancada na cachola.

No saquinho havia cola,
logo depois veio a marola,
vai na bocada e se isola.

Queria ser como o Cartola,
samba, canta e toca viola,
mas logo viu que isso não rola,
uma opção era carriola,
vida ingrata, só amola,
optou pela pistola.

Diretriz

Quando criança, queria ser doutor,
na tv aprendeu que as coisas tem valor.
A vida, do seu sonho o derrubou,
e outra vida o menino procurou.
Os seus pedidos a sociedade não atendeu,
aquele homem de gravata muita coisa prometeu,
mas esperar não era a sua vocação,
outros caminhos despertaram lhe a atenção.