13 de jan. de 2010

Uma Noite

Despertou de seu sono e em poucos segundos se pos a levantar. Cabeça pesada, estômago ruim e a vista embaçada limitavam suas ações. Se encontrou no tempo e no espaço. Eram dez e trinta sete em um quarto de motel. Aquele cheiro misto de cigarro e condicionador barato empestiava o local. Cama desarrumada e roupas por todos os lados indicavam um ponto em sua memória. Mas não conseguia pensar, não naquele momento. Sua cabeça latejava no esforço de se manter consciente. Algumas garrafas vazias de vodka enfeitavam a única mobília disposta em um canto escuro. Um feixe de luz vazava pela janela indicando a poeira no ar. Em um instante uma ideia do que ocorrera na noite passada percorreu sua mente e em um esforço em vão procurou sinais de outra pessoa. Cama, quarto e banheiro. Não havia ninguém.

Levantou se e cambaleando até a pia bebeu um pouco de água. O líquido escorria e molhava sua garganta ressecada, cada gole lhe dava um ânimo a mais, um alívio em seu mal estar. Procurou algo entre as garrafas e do lado do maço encontro um fósforo com a logo do motel em letras vermelhas.

Acendeu um cigarro, sentou se na beirada da cama e começou a recordar as últimas horas do dia anterior. Quem era ela e onde a conheceu eram perguntas
difíceis de responder. Por um segundo, um esboço de seu rosto pairou em sua memória. Cabelos escuros, corpo escultural e olhos expressivos.

Qual era seu nome, Larissa, Vanessa? Pouco importava. Dificilmente a veria de novo e na verdade, preferia assim.

9 de dez. de 2009

Mendicância

Eu ando pelas ruas e não dou bola pra ninguém. Eu ando pelas ruas sem ao menos um vintém.

Eu durmo em uma caixa toda feita em papelão. Não rolo em uma cama, pois o chão é o meu colchão.

De dia eu fico a toa procurando distração. À noite eu bebo todas, faço jus a minha função.

À sociedade nada devo, essa foi minha opção. Mas desde já eu agradeço a toda sua desatenção.

14 de abr. de 2009

Apontando Lápis

Estive algum tempo sem escrever e devo isso a minha rotina. Não apenas pelo desgaste que ela me traz e sim pela busca do instantâneo. Escrever me exige um nível de concentração um pouco difícil de atingir. Meus pensamentos são alternados aleatoriamente, idéias atropeladas são difíceis de manter. Nada que um pouco de prática e boa referência não resolvam. Paciência.

Admito minhas constantes falhas com a gramática, mas ainda acho que o mais importante é conseguir se expressar. Passar a mensagem. Afinal, minha experiência se resume a este blog. E aproveitando a inspiração do futebol semanal. Não importa se o gol é de placa ou de canela. O importante é fazer gol. Ou no caso com você leitor, acertar os passes. Para os mais fervorosos, um curso de redação está a caminho. Relaxem.

16 de fev. de 2008

Alguns

Na mesmice do real encontramos descontentes,
desprovido de limites, desafiam os conformados.
Provocando seus sentidos e alterando suas mentes,
sendo tido como heróis ou apenas alucinados.

15 de fev. de 2008

Persona non grata II

Genoveva era viúva, 68 anos, manca e adorava ver novelas. Seu maior orgulho era Naldinho, filho mais velho, 45 anos, solteiro e responsável. Meu bebê! – Costumava dizer Genoveva enquanto olhava as fotos do seu “picorruxo”. Boa parte do dia Genoveva passava sentada em seu alpendre enquanto observava o movimento da rua. Conhecia as particularidades de todos que ali viviam, do Antenor marido da Ruth que chegava bêbado todas as noites de sexta, ao Marquinhos que fumava maconha escondido na rua debaixo junto com Paulo filho da Odete. “Que povinho”. Dizia a viúva enquanto afagava Thunder, o grande siamês. A vida alheia era o seu maior passatempo, entretenimento gratuito para Genoveva.


Em uma tarde de domingo, após o “fatigante” almoço em família, Genoveva observava Otílio, seu neto mais novo andando em sua mais nova bicicleta. “Não suporto esse peste”. Dizia a velha após socorrer Thunder, o grande siamês, inúmeras vezes das garras de Otílio, o peste.

- Mas que bicicleta infernal! Será que não podia estar arranhando outra calçada? Dá um jeito nesse moleque João Afonso.

- Poxa mãe, do jeito que a senhora fala até parece que Otílio não é seu neto.

- Sendo filho de quem é, não duvido nada. – e Thunder, o grande siamês ganhava o seu afago.


Aquele gato significava muito para Genoveva, muito mais que a sua coleção caríssima de cristais. Otílio é quem havia dado aquele gato já batizado de Thunder para a vó. Mas o menino também havia quebrado diversas peças de seu cristaleiro, o que deixava o pequeno Otílio endividado com a vovó.

- Vó Genô me dá mais um pedaço de bolo?

- Já comeu o bastante! Agora vá lavar sua mão antes que decida limpar em minha toalha nova. – Pobre Otílio.


Não demorou muito e Thunder, o grande, morreu de infarto ao tentar descer de uma cadeira. O baque foi demais para Genoveva que logo começou a trocar as bolas, embaralhar as idéia e gritar com pombos. Ficou pinéu. Naldinho logo tomou as providências “cabíveis” e internou a velha em um asilo. Afinal, quem iria abraçar a mala?


Após um pequeno surto no Asilo do Papai, Genoveva enfiou a cara em um prato de mingau. Ato que lhe concedeu o prêmio mais alto que o Papai poderia oferecer, um belo cocktail de sedativos. Genô agora caminha em campos verdes e macios, ao fechar os olhos percebe que pode sentir o orvalho em sua face e a brisa em seus cabelos.

- Mas que frio da porra! – enquanto afagava a sua mão.

25 de jan. de 2008

Persona non grata I

Pablito morava em uma cidade mediana, não era o que ele tinha como ideal, mas era sua cidade. Desde pequeno gostava de pensar grande, queria ter dinheiro, carros e mulheres, não exatamente nessa ordem mas queria ser alguém. Às vezes passava horas imaginando o seu futuro, planejando o seu sucesso, analisando seus sonhos e traçando seus métodos. Não acreditava em destino, queria ser dono de sua vida, ter o controle da direção, do caminho e da situação.

Julgava-se especial de alguma maneira, havia um conforto em tal pensamento. Não acreditava na maldade, e sim na conveniência, “a ocasião faz o ladrão” era isso que diziam, certo? O caminho era dele e intrusos não eram bem vindos.

O gosto da derrota era amargo demais para Pablito. Aprendeu cedo que segundo e último estavam igualmente distantes do primeiro e que este deveria ser sempre o seu lugar. Na escola sua professora dizia: - O importante é participar. – Para ele esse era o consolo dos medíocres.

Para Pablito os fins justificam os meios, a razão desbanca a emoção e o mundo é dos espertos. Não demorou muito para ser mal visto por aqueles que o cercavam. Pablito não entendia a rejeição daquelas pessoas, afinal uma de suas frases preferidas era: “Não odeie o jogador, odeie o jogo". Certo?

28 de set. de 2007

Inépcia

- Ei moço!

- Sim?

- Você é um porco!

- Como é que é?

- Eu vi quando você jogou aquela casca no chão.

- A casca de banana?

- Isso mesmo!

- E daí?

- Lugar de lixo é no lixo e não no chão.

- Mas eu não joguei no chão.

- Como não?

- Foi na grama.

- Afff... dá na mesma.

- Não dá não. Lixo orgânico na grama, eu posso chamar de adulbo.

- Se o senhor não sabe, uma casca de banana demora anos pra se decompor.

- Quem disse isso?

- Eu disse.

- Você está enganada.

- Ah, estou?

- Sim, você está. Dependendo da umidade do ar, a casca de banana leva em média dois meses para se decompor.

- E como é que você sabe?

- Certa vez, eu deixei três bananas estragarem. Por curiosidade observei aquelas três bananinhas se definharem por um mês.

- E quem aqui está falando de banana?

- Nós estamos.

- Só se for o senhor. Eu to falando da casca.